Cooperativas se destacam com aumento de lideranças femininas no Brasil
17 de janeiro de 2024 às 17:42
Segundo os dados do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) as mulheres ocupam apenas 15,2% das cadeiras nos conselhos administrativos, fiscais e diretorias de capital aberto do país.
A pesquisa demonstrou, que embora o número seja baixo, ele teve um pequeno aumento com relação a 2022, que era 14,3%.
No estudo foram entrevistadas 6160 profissionais em 389 empresas. Descobriu-se que apenas 25% das companhias têm mulheres atuando nos conselhos de administração e nas diretorias.
Outras constatações foram a de que 82,5% têm alguma mulher na liderança, em 65,8% elas atuam nos conselhos de administração e em 49,2% nas diretorias.
Para Valeria Café, diretora de Vocalização e Influência da IBGC, quando há uma diversidade nos conselhos de administração e organização, as cooperativas tendem a se beneficiar da pluralidade, inovação, e de processos de decisões.
Em 2018, a Morgan Stanely Capital Internacional (MSCI), revelou que as empresas da rede que possuíam mulheres no Conselho de Administração, entre setembro de 2015 e 2016, geraram um retorno sobre o Patrimônio Líquido de 10,1% ao ano, contra 7,4% para aqueles que não possuem.
A pesquisa demonstrou que Conselhos de Administração com equipe diversificadas tendem a ser mais inovadores e a tomar melhores decisões.
Em um artigo publicado por Deborah Patrícia Wright na Revista GV Executivo, a autora relata que estudos mostram na presença de mulheres nos conselhos e lideranças impactos positivos nos desempenhos financeiros, éticos, sustentáveis e criativos.
Mirna Abou Rafée, CEO da Yutter e criadora de programas de treinamentos e capacitações para profissionais nas habilidades de comunicação, conta que a presença feminina nas empresas e cooperativas trás inúmeras vantagens, entre elas, a diversidade de pensamento, promoção de ambientes mais inclusivos, entre outros.
As mulheres sempre estiveram nas cooperativas
A presença das mulheres na história das cooperativas já vem de longa data, desde a criação do movimento cooperativista em 1844. Ele começou com a Sociedade Cooperativa Equitativas dos Pioneiros de Rochdale, no interior da Inglaterra, com a tecelã Eliza Brierley. Ela foi a primeira mulher a se associar a uma cooperativa, em uma época que a presença feminina era ignorada e vista com maus olhos.
Mais tarde, em 2009, a inglesa Pauline Green se tornou pioneira ao presidir a Aliança Cooperativa Internacional (ACI). No continente americano, outra mulher representou a sua regional, a uruguaia Graciela Fernandez Quintas.
Para Rosilene Marcelino, professora universitária, conselheira do laboratório de Consumer Insights, da ESPM-SP (CI-Lab), professora de Publicidade, Ciências do Consumo, Cinema/Audiovisual, Identidade, Diversidade e Inclusão da ESPM, são muitas as barreiras enfrentadas no mercado para a ascensão de mulheres.
“A analista Priscila Yazbeck, a partir de levantamento realizado pela BR Rating, coloca que em uma pesquisa feita com 486 empresas, que empregam de 200 a 10 mil funcionários, sendo 59% de nacionais e 41% multinacionais, apenas 3,5% das companhias têm CEOs mulheres e 16% têm mulheres em cargos de diretoria. Já 19% das corporações têm mulheres em cargos de gerência. É preciso engajamento de variados agentes sociais para contornar essas desigualdades”, lembra Marcelino.
Uma das iniciativas é o movimento Elas Lideram 2030, que atua em parceria com o Pacto Global da ONU Brasil e ONU Mulheres e tem como ambição ter 1500 empresas comprometidas com a paridade de gênero na alta liderança até 2030.
Até 2025, espera-se chegar à marca de 30% de mulheres em cargos de alta liderança e, em 2030, eleva-se para 50%.
“A pesquisadora Camila Maldaner nos ajuda a olhar para as mulheres em cargos de liderança nas cooperativas. Ela de partida, rompe com o senso comum e apresenta a liderança como a realização de metas por meio da condução perspicaz da equipe de trabalho, independente das situações vivenciadas”, diz Rosilene.
A partir de um estudo de caso sobre Cooperativa de crédito poupança e investimento Sicredi Integração Rota das Terras RS/MG, Maldaner faz algumas observações importantes.
Uma delas é a de que as mulheres cooperadas possuem um papel insubstituível, ocupando cargos como caixa, atendente, assistente de negócios, analista, assessora, assessora de negócios, assessora administrativa, assistente administrativo, assistente administrativo financeiro, gerente de negócios PF (pessoa física), gerente de negócios e tesoureira, estando cada mais presentes em diversas funções e setores.
“Porém em cargos de alta gerência como gerente de unidade e de administrativo financeiro observa-se que há uma escassez delas”, ressalta Rosilene.
Pesquisa e conselho
Essa constatação também foi observada por Heloisa Helena Lopes, Vice-presidente do Conselho de administração da Sicredi Pioneira, professora de direito e legislação cooperativista, governança, compliance e liderança e mentora de mulheres. Ela desenvolveu uma pesquisa em 2021, que teve como principal objetivo compreender as trajetórias das lideranças femininas das cooperativas de crédito, e como elas impactam suas carreiras.
No estudo foram analisados os aspectos como as identidades da liderança, ao longo das trajetórias das mulheres pesquisadas.
“Apesar do número de mulheres que têm ensino superior ser maior no mercado de trabalho, os cargos de posição executiva de alta gestão e conselhos de administração são ocupados, em sua maioria, por homens. Para diversos autores, a diversidade é importante para os negócios, visto que uma maior diversidade na força de trabalho aumenta a eficiência organizacional e, consequentemente a produtividade, permitindo que a empresa tenha acesso a novos segmentos de mercado, gerando aumento da lucratividade”, explica Heloísa.
Apesar do aumento da participação feminina nas organizações e em posições de liderança, a pesquisadora verificou a existência de um afunilamento hierárquico, ou seja, conforme aumentam as atribuições de liderança e comando nas organizações, encontram-se menos mulheres.
Nas Cooperativas de crédito, Helena percebeu a baixa participação das mulheres na liderança, tanto na trajetória do colaborador quanto na do Associado.
Durante as entrevistas, a Vice-presidente do Conselho de administração da Sicredi Pioneira destacou que, as mulheres líderes das cooperativas de crédito enfrentaram grandes dificuldades na sua trajetória de vida para ascenderem.
“Foram momentos em que as mulheres sofreram discriminação de gênero, desestímulo e assédio. Isso serve de importante discussão acerca da necessidade de as cooperativas pensarem em políticas de inserção e serem capazes de promover condições para o fortalecimento da mulher na sociedade, nos negócios e no desenvolvimento das cooperativas”, relembra.
Além de pesquisar o tema, Heloisa foi Conselheira de Administração suplente em 2011 da Sicredi Pioneira.
“Em 2016, a Sicredi Pioneira abriu um Processo de Sucessão para Presidente e Vice-presidente. Naquele momento, tive coragem de “levantar a mão” e participar do processo que teve duração de um ano. Após várias etapas de desenvolvimento, fui escolhida para compor a chapa do Conselho de Administração como Vice-presidente, o que se efetivou em 2019, com a aprovação em assembleia pelos associados”, conta.
Fonte: Sistema Ocergs/SescoopRS