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O próximo salto do cooperativismo mundial

14 de julho de 2022 às 15:08

Uma em cada seis pessoas no mundo é cooperativista. Hoje, o cooperativismo reúne nada menos que 1 bilhão de cooperados, congregados em 3 milhões de cooperativas, que geram 250 milhões de empregos diretos em todo o mundo. E foi para contemplar esses números grandiosos que a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), por meio de seus 312 membros, espalhados por 112 países, acaba de dar mais um passo rumo ao futuro.

No último dia 20 de junho, aconteceu Assembleia Geral da entidade, em Sevilha, na Espanha, que formou uma nova Diretoria para estar a frente de seus trabalhos. Entre ela, a importante presença do presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, que, eleito com o maior número de votos, agora ocupa uma cadeira no Conselho de Administração!

Em conversa exclusiva, Márcio nos conta tudo sobre a atuação do Conselho da ACI, o impacto do cooperativismo nacional ter um representante nessa frente, o cenário atual do movimento internacional e, claro, o que as cooperativas brasileiras podem esperar nos próximos anos, que prometem trazer grandes mudanças!

Primeiramente, a MundoCoop gostaria de te parabenizar pela importante eleição. Levando em consideração sua trajetória a frente da OCB e do cooperativismo brasileiro, o que essa conquista representa?

Essa conquista representa muito para o cooperativismo brasileiro. Mostra que o trabalho que temos desenvolvido há anos está no caminho certo e abre inúmeras oportunidades para consolidarmos ainda mais nossa representatividade. O fato de termos recebido o maior número de votos na eleição, demonstra a confiança que o cooperativismo mundial deposita no Brasil, no nosso modelo de atuação e na evolução do nosso trabalho. Só podemos agradecer por essa confiança e afirmar que vamos fazer tudo ao nosso alcance para atender as expectativas sobre a nossa presença no Conselho. Vamos trabalhar para fortalecer a cultura da cooperação e garantir mais legitimidade, maior representatividade e interlocução mais direta entre os países membros da ACI.

Qual é a principal função do Conselho de Administração da Aliança Cooperativa Internacional (ACI)?

A ACI é um organismo internacional não-governamental que tem como função preservar e defender os princípios cooperativistas no mundo todo. Para isso, ela reúne, representa e atende organizações cooperativas dos mais diversos países e funciona como uma voz mundial do setor. Ela trabalha com governos e organizações globais e regionais para criar ambientes legislativos que possibilitem a formação e o crescimento das cooperativas. Para os meios de comunicação e o público, a ACI promove a importância do modelo de negócios das cooperativas, centrado nas pessoas.

Para se ter uma ideia, a Aliança representa mais de 1 bilhão de cooperados, congregados em 3 milhões de cooperativas, que geram 250 milhões de empregos diretos em todo o mundo. São ao todo 312 membros, espalhados por 112 países.

Assim, a função básica do Conselho de Administração é manter o direcionamento estratégico da organização, de acordo com os principais interesses de seus membros. Nesse sentido, discutir planejamento, orçamento, projetos a serem liderados e incentivados são algumas das atividades do colegiado.

Também cabe ao Conselho promover debates sobre a representação do cooperativismo mundial e definir o posicionamento da entidade frente a outros organismos como, por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU), o G20, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), entre outros.

São atividades que estimulam debates e a prática da tomada de decisões em grupo, de forma coletiva, e que representa um dos princípios básicos do cooperativismo.

Qual a importância de ter um representante brasileiro nessa posição?

Antes de mais nada, valorizar nossas cooperativas e abrir novas oportunidades para o nosso movimento. Queremos dar mais atenção e participar de forma mais efetiva na promoção e articulação de acesso aos mercados internacionais para as nossas cooperativas. Temos inúmeras oportunidades de intercooperação internacional para a troca de conhecimentos e promoção comercial. Também podemos dinamizar processos e desenvolver setores pouco explorados pelas cooperativas brasileiras até aqui, a exemplo das áreas de Turismo ou de Seguros. Outro ponto importante é investir mais em educação e treinamento de gestores e os fóruns internacionais são importantes para a troca de conhecimentos e experiências.

É ter acesso a boas práticas, experiências e conhecimentos e possibilitaram a OCB ajudar as coops a profissionalizar a sua gestão e governança no Brasil.

Qual é o atual posicionamento do cooperativismo mundial? A partir dessa eleição, quais são as expectativas e principais focos de atuação?

O cooperativismo é um movimento plural e que possui objetivos e desafios comuns. Assim, um dos principais focos de atuação não apenas de agora, mas sempre, é o de demonstrar e comprovar a importância e o diferencial do nosso modelo de negócios. A instituição do Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado sempre no primeiro sábado de julho, é um exemplo claro desse foco. É uma data que une as cooperativas do mundo todo em torno de um só tema para difundir e reconhecer o papel do movimento na economia global, na contribuição para a segurança alimentar, no combate à degradação do meio ambiente, na geração de emprego, na economia colaborativa e tantas outras ações baseadas em valores éticos.

Além disso, conforme já divulgado pelo presidente da ACI, Ariel Guarco, reeleito para mais um mandato à frente da organização, os próximos anos serão dedicados a aprofundar a integração econômica, cultural e institucional da diversidade de setores e regiões; a trabalhar na questão da identidade cooperativa, que não pode ser apenas declaratória, mas sim o farol que orienta todas as atividades da Aliança com associados, comunidades, governos e outros atores essenciais para que possamos desenvolver alianças em prol de um mundo mais justo, inclusivo e pacífico.

Também é importante continuar fortalecendo a posição da ACI como protagonista do movimento cooperativista internacional e que não há desenvolvimento realmente sustentável se nossos princípios não forem considerados nos modelos de negócios do futuro. Assim, é necessário fortalecer ainda mais os lanços com outras organizações internacionais para tornar o desenvolvimento sustentável uma realidade. Faz parte das missões da ACI continuar avançando no trabalho de adocacy global, regional e nacional para garantir novas e melhores oportunidades para que nossa gente tenha uma vida cada vez mais digna.

O Conselho da ACI é composto por representantes de diferentes países. Que oportunidades essa configuração traz para o fomento da intercooperação entre cooperativas brasileiras e internacionais?

A ACI tem um papel muito importante e difícil ao mesmo tempo. Representa um modelo, uma filosofia de um 1 bilhão de pessoas com os mais diferentes backgrounds, religiões, ideologias, etc. É uma das poucas línguas globais existentes, uma vez que sua doutrina se propaga mundo afora.

E isso se dá justamente pelos princípios e objetivos em comum e porque existe uma organização que funciona como um grande bastião desses princípios. Uma organização resiliente, que existe há 126 anos e que é capaz de conversar com governos, comunidades e pessoas com o mesmo propósito, que adota uma mesma marca e que é reconhecida e respeitada em todo o mundo.

O cooperativismo funciona como resposta para os desafios da humanidade, para uma proposta justa e sustentável de uma sociedade mais equilibrada. E a ACI tem, portanto, o papel de zelar pela identidade desse modelo de negócios, que gera prosperidade de forma inclusiva.

A intercooperação é um dos desafios mais presentes no momento atual e, com certeza, um instrumento para garantir a evolução e manutenção do nosso modelo de negócios hoje e no futuro. O fato do Conselho da ACI ser formado por representantes de diferentes países contribui de forma significativa para a troca de conhecimentos.

Apesar dos princípios em comum, o cooperativismo funciona de diferentes formas mundo afora, inclusive por conta de legislações diversas. Essa troca de conhecimento, com certeza, nos abre a mente para essa diversidade de modelos e para que possamos trazer os bons exemplos para o Brasil, ao mesmo tempo que contribuiremos com os nossos bons exemplos que podem ser adotados em outros países.

De que forma a ACI e outros órgãos cooperativistas podem se articular para um fortalecimento mundial do movimento?

O mundo está vivenciado uma transformação diferente, em especial em decorrência da pandemia que acelerou a digitalização das atividades, mudou formas de relacionamento e nos fez repensar significados. Essa transformação pede uma visão diferenciada dos modelos tradicionais de negócios e o cooperativismo já tem em seu DNA essa nova visão, que é de ter um propósito definido e um caminho bem demarcado a percorrer para alcançar esse propósito.  O que nos falta é sermos mais percebidos pela sociedade.

O cooperativismo é responsável por levar prosperidade aos locais onde está inserido, garantindo o equilíbrio entre sustentabilidade e produtividade. E prosperidade é mais do que desenvolvimento econômico ou social. É um conjunto que derrama valores para a sociedade onde está presente. As cooperativas, pelo modelo compartilhado de negócios que adota, onde todos ganham, é um exemplo nesse sentido.

Outro diferencial do cooperativismo é a confiança que oferece. O cooperativismo é maior armazém de confiança que existe, e a confiança é hoje um dos remédios que a humanidade mais precisa. Sem ela, não será possível enfrentar as transformações, reagir e mudar. A sociedade hoje quer ser mais do que ter mais. Isso não é uma moda. É uma tendência e a confiança é ingrediente essencial para que esse objetivo seja alcançado.

O trabalho da ACI já é desenvolvido nesse sentido e vamos continuar atuando para que nosso movimento seja cada vez mais reconhecido e respeitado.

Com essa grande representação nacional na ACI, o que o movimento cooperativista brasileiro pode esperar daqui para frente?

Desde que se filiou à ACI, em 1989, o Sistema OCB sempre participou efetivamente de sua administração, contribuindo para uma governança produtiva. Roberto Rodrigues, ex-presidente do Sistema OCB, foi, inclusive, eleito o primeiro presidente não europeu da Aliança. Essa é a primeira vez, no entanto, que um presidente do Sistema OCB é eleito para o Conselho.

Há uma grande demanda para que o Sistema OCB possa dar mais atenção e participar de forma mais efetiva na promoção e articulação de acesso aos mercados para as nossas cooperativas, inclusive internacionalmente. A indicação do meu nome foi um pedido do próprio Conselho de Administração da OCB. Participar do conselho é, portanto, uma consequência natural para seguirmos essa estratégia e demonstrar nosso interesse em uma atuação mais ativa, que garanta uma interação maior e traga novos e significativos resultados para o nosso movimento no Brasil.

 

Fonte: Revista MundoCoop, edição 106.

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